Dados da Diversitera ainda revelam que a renda média de pessoas negras é 43% inferior à de pessoas brancas
A desigualdade racial persiste nas empresas brasileiras, refletindo um cenário em que pessoas pretas e pardas, apesar de serem a maioria da população e da força de trabalho, ocupam poucos cargos de alta liderança. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que pessoas autodeclaradas negras (pretas e pardas) representam 55,5% da população, somando 116,9 milhões de pessoas. Dentro do mercado de trabalho, elas constituem 55,2% da força de trabalho disponível e 46% da força de trabalho ocupada.
No entanto, ao observar os cargos de liderança no país, essa representatividade diminui drasticamente. Segundo dados da Diversitera, startup de Diversidade e Inclusão, realizado entre junho de 2022 e julho de 2024, que conta com 49 mil respondentes de 40 organizações nacionais e multinacionais, apenas 8,7% dos cargos de alta liderança são ocupados por pessoas pardas, e ainda mais alarmante, somente 1% são ocupados por pessoas pretas. Em contrapartida, pessoas brancas detêm 84,1% desses cargos de chefia, que incluem posições de diretoria e executivos sêniores.
A situação se repete nos cargos de média liderança, como gerências. Nessa categoria, 14,8% dessas cadeiras são ocupadas por pessoas pardas e 2,8% por pessoas pretas, enquanto 74,9% dos cargos ainda são dominados por brancos. As funções operacionais, que incluem atividades em linhas de produção ou serviços gerais, por exemplo, são ocupadas por 55% de pessoas negras, enquanto as brancas representam 37% desses postos. Já em cargos de serviços gerais, tradicionalmente terceirizados, como portaria, segurança e manutenção, a participação de pessoas negras chega a 69%, contra 26% de pessoas brancas.
“Ao fazermos esse tipo de constatação, sobretudo por meio de dados e estudos, materializamos que esse ‘jogo’ ainda não está ganho, pois notamos o grupo hegemônico evidenciado por eles desfrutando sozinho das benesses atreladas aos tomadores de decisão, que são justamente aqueles indivíduos que orientam mudanças relevantes e melhorias no ambiente de trabalho. Nos últimos anos, avançamos em termos de políticas públicas e privadas voltadas às pessoas étnico-racialmente diversas, mas há ainda muito a ser feito quando o assunto é inclusão, pois ela implica em fatiar o bolo e distribuir os pedaços para mais pessoas de forma consciente, responsável e perene.” afirma Tamiris Hilário, especialista em questões étnico-raciais da Diversitera.
A desigualdade e o racismo estrutural ficam ainda mais evidentes ao comparar a renda média entre pessoas negras e brancas. Segundo a pesquisa da Diversitera, a renda média de pessoas negras (pretas e pardas) é 43% inferior à de pessoas brancas. Esse índice, que já é preocupante, se acentua ainda mais quando aplicamos o recorte de gênero. Homens pretos ganham, em média, 50% a menos que homens brancos, enquanto a diferença entre mulheres pretas e brancas é de 63% no valor da remuneração.
Os dados também apontam que, embora ocupem os mesmos cargos e desempenhem as mesmas funções, pessoas negras continuam desvalorizadas, recebendo, em média, 20% a menos do que pessoas brancas. Entre os autodeclarados pretos, essa diferença sobe para 25%. Esses dados evidenciam uma realidade de discriminação sistêmica que vai além da simples diferença de salários.
“Observar renda e remuneração é um ótimo caminho para compreender o que é o racismo estrutural e como ele opera no Brasil, quando é menos sobre episódios individuais e cotidianos de preconceito, injúria e discriminação, e mais sobre aquilo que impactou e ainda impacta gerações de determinado grupo étnico-racial. Nesse sentido, dinheiro é parte fundamental do debate, pois é preciso lembrar sempre que o colonialismo e o escravismo se sustentaram a partir da exploração econômica dos recursos do nosso país por meio de pessoas negras e indígenas, em uma lógica em que um grupo hegemônico acumulou riquezas em detrimento dessas existências. As consequências disso persistem até os dias atuais, para um lado e para o outro, portanto essa conversa é sobre grana também”, comenta Tamiris.
Essas estatísticas são um retrato de um sistema de desigualdade racial que segue moldando condições de vida e trabalho de milhões de brasileiros. O descompasso salarial, agravado por um cenário de discriminação cotidiana, aponta para a necessidade urgente de políticas públicas e privadas eficazes, como ações concretas para garantir igualdade de oportunidades no mercado de trabalho, promovendo uma sociedade mais justa para todos.
Sobre a Diversitera
A Diversitera é uma startup dedicada à promoção da equidade social e econômica em organizações de diversos perfis, transformando Diversidade e Inclusão em pilares estratégicos. Com uma equipe experiente e apaixonada por dados, a empresa oferece uma gama de serviços, incluindo censo diagnóstico de DEI, consultoria, ações de comunicação institucional e capacitação. Seu principal recurso é a Diversitrack, uma plataforma SaaS para coleta de dados que proporciona uma análise aprofundada de indicadores, identificando urgências e estabelecendo prioridades para ações mais eficazes no curto, médio e longo prazos nas organizações. Em sua nova versão, com mais atributos e facilidades, somada a uma metodologia exclusiva, a conformidade com a LGPD, e a disponibilidade em múltiplos idiomas, a Diversitrack se posiciona como a ferramenta mais completa da atualidade.
Site: https://www.diversitera.com
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Maria Heloísa Martinheira